Chamava-se Peregrine e, como o falcão, era um homem selvagem e livre, extremamente atraente, fabulosamente rico, e deslumbrantemente sedutor que, procedente do Oriente Médio, abria passo na Sociedade vitoriana com decisão.
Mas seu único desejo era vingar-se de Charles Weldon, um desalmado proprietário de bordéis que, tempo atrás, converteu-se em seu inimigo.
E o plano de Peregrine não poderia ser mais diabólico: primeiro, seduzirá Sarah, a prometida...
Capítulo Um
A mensagem chegou logo a Lorde Ross Carlisle, que subiu a bordo do Kali ao fim de duas horas. Enquanto o alto e magro inglês subia à parte coberta do navio e era iluminado pela luz da lanterna, Peregrine o observava de um lugar estratégico entre as sombras.
Fazia dois anos que não se viam, e se perguntou quanto fortes resultariam ser os vínculos da amizade ali, na Inglaterra.
Para o filho mais novo de um Duque, uma coisa era confraternizar com um aventureiro de duvidoso passado nas terras selvagens da Ásia, e outra muito diferente era introduzir a este homem em seu círculo.
Os dois homens não podiam ter procedências mais diferentes, mas apesar disso existira entre ambos uma surpreendente harmonia de mente e de agir.
Inclusive à beira da morte nas montanhas da cordilheira Hindu Kush, Lorde Ross se mostrou inconfundivelmente como um aristocrata inglês. Agora, iluminado pela lanterna e usando peças de vestuário, cujo preço serviria para alimentar durante uma década a uma família Kafir, parecia o que era: um homem nascido na classe dirigente do maior império que o mundo jamais havia conhecido, com todo o aprumo dos de sua classe.
Peregrine se afastou do mastro e entrou na zona iluminada.
— Me alegro de que minha mensagem o encontrasse em casa, Ross. Foi muito amável vindo tão depressa.
Os dois homens se olharam nos olhos. Os de Lorde Ross eram castanhos, o que constituía um inesperado contraste com seu cabelo loiro. Entre eles sempre tinha existido competição, assim como amizade, e os motivos por trás deste encontro não seriam simples.
— Tinha que ver se era você realmente, Mikahl. — O inglês lhe estendeu a mão. — Jamais acreditei que o veria em Londres.
— Disse que viria, Ross. Não tinha que duvidar de mim. — Apesar do cansaço que se respirava no ambiente, Peregrine apertou com força a mão do outro homem, surpreso pelo grande prazer que sentia por este encontro. — Ceiou?
— Sim, mas tomaria com prazer uma taça desse brandy excepcional que sempre parece ter.
— Paramos na França especialmente para repor meu estoque. — Peregrine o guiou até seu suntuoso camarote, e quando chegaram nele examinou a seu companheiro. Lorde Ross era a viva imagem do lânguido aristocrata inglês; realmente tinha mudado tanto?
Cedendo a um impulso malicioso, Peregrine decidiu averiguá-lo. Sem avisar, virou sobre seus calcanhares e o golpeou com o cotovelo direito no estômago com tanta força que teria derrubado a um boi. Deveria ter sido um golpe que o incapacitasse, mas não foi.
Com a velocidade do raio, Ross agarrou o braço de Peregrine antes que o cotovelo pudesse tocá-lo. Logo o dobrou e retorceu, e lançou seu anfitrião no centro do camarote com um só movimento, suave e contínuo.
Quando aterrissou sobre seu ombro direito, Peregrine automaticamente encolheu seu corpo e rodou, indo parar de costas em um dos biombos.
Se tivesse sido uma briga a sério teria reagido e teria se posto em ação, mas nesta ocasião ficou quieto no chão atapetado e conteve o fôlego.
— Me alegro de ver que a civilização não o abrandou. — Então sorriu, com a sensação de que os dois anos de separação tinham desaparecido. — Este movimento não aprendeu de mim.
Ross, cujo lenço e cabelo já não estavam impecáveis, rompeu em gargalhadas com expressão infantil.
— Decidi que, se era verdade que tinha vindo à Inglaterra, era melhor que estivesse preparado, velho diabo. — Estendeu uma mão para ajudá-lo a se levantar. — Paz?
— Paz
Trilogia Seda
1- Beijos de Seda
2- Segredos de Seda
3- Abraços de Seda