Mantenha os amigos por perto... E os inimigos mais ainda.
Ian Gilvry, laird de Dunross, é rude e selvagem como os espinheiros das Terras Altas.
Mas o retorno de Selina e sua família reivindicando suas posses despertam nele ódio e paixão em iguais medidas.
Lady Selina está dividida entre a lealdade a sua linhagem e o desejo luxuriante que nutre por Ian.
Levada a se casar, ela descobre o quanto a virilidade dele satisfaz sua volúpia.
Mas para Ian o dever vem em primeiro lugar.
Como Selina terá certeza de que o coração daquele laird pertence não somente a seu clã... mas a ela também?
Capítulo Um
Escócia - 1818
Como ela pôde achar que voltar à Escócia seria uma boa ideia? Olhando o candelabro de ferro fundido suspenso nas antigas vigas de carvalho e as paredes de pedra cinzenta cobertas de tapeçarias esfarrapadas, espadas imensas e lanças enferrujadas, lady Selina Albright reprimiu a vontade de fugir.
Depois de largar dois pretendentes muitíssimo aceitáveis, fugir de mais um seria o mesmo que ficar além dos limites do aceitável. Nem mesmo a considerável influência de seu pai impediu que ela fosse declarada uma coquéte.
E, além do mais, essa era uma escolha sua. Finalmente.
Ao redor dela, cavalheiros trajando casaca escura e mulheres com vestidos suntuosos, suas joias faiscando a cada movimento, enchiam o medieval salão de banquete do castelo de Carrick.
— Não esperava que estivesse tão cheio — observou Chrissie, a nova lady Albright, esposa de seu pai há apenas um ano e quem encorajou Selina a concordar com a viagem.
Mas ela nunca seria indelicada a ponto de dizer a verdade para Chrissie.
— Ele deve ter convidado cada membro da nobreza escocesa — disse Selina. — Acho que a qualquer momento verei o fantasma de Banquo ou três bruxas curvadas sobre um caldeirão. — Um calafrio percorreu sua espinha. — Eu devia ter aguardado pelo fim do serviço militar de Algernon em Londres.
Ela olhou de relance para o outro lado do salão, onde o Muito Honorável Tenente Algernon Dunstan conversava com outro oficial diante da enorme lareira decorada com galhadas de veado. De cabelo claro e esguio, ficava atraente em seu uniforme militar vermelho. Não exatamente o bom partido que seu pai esperava, mas era um rapaz de boa família e gentil. O tipo de homem que seria um marido distinto.
Dunstan percebeu que estava sendo observado e se curvou num cumprimento.
Ela inclinou a cabeça e sorriu. Dunstan era o motivo de sua presença ali: precisava induzi-lo ao desejado pedido e sair da casa do pai, onde se sentia decididamente oprimida.
— Acho tudo isso muito romântico — disse Chrissie, apreciando seu entorno com olhos arregalados. — É como se eu tivesse sido transportada para as páginas de Waverley. A fortaleza de Dunross é tão encantadora assim?
— Dunross é tão romântica quanto um barco no mar do Norte no inverno. — Era difícil imaginar que Selina tivesse se apaixonado pela fortaleza quando a viu, dez anos atrás. Tinha sido uma criança bastante impressionável, era de se supor. — Não é tão grandiosa quanto esta, mas é tão fria e úmida no verão que, sem dúvida, se torna um gelo no inverno. Papai lhe contou que o povo do local nos odeia porque somos ingleses? Eles nos consideram usurpadores, sabia? — Por alguma razão obscura, seu pai, o senhor daquelas terras, queria visitar a fortaleza logo em seguida — algo que não havia mencionado antes de deixarem Londres. Esse era o verdadeiro motivo para Selina lamentar acompanhá-lo naquela viagem. Dunross era o último lugar no mundo que ela queria visitar.
— Ah, minha nossa! — ofegou Chrissie. — Quem é aquele?
Selina acompanhou a direção do olhar dela.
Sentiu uma batida forte do coração quando reconheceu o homem alto trajando a vestimenta das Terras Altas, emoldurado pela entrada arqueada de pedra. Ian Gilvry. O auto proclamado laird de Dunross.
Seu motivo para odiar a Escócia. Enquanto seu olhar o assimilava, um nó se formou em seu estômago e dificultou sua respiração.
Ele não era o jovem magro do qual se recordava, embora fosse reconhecê-lo em qualquer lugar. Era viril e musculoso e, apesar do saiote verde e vermelho, extremamente másculo.
Suas feições eram rudes e sombrias demais para que fosse considerado bonito nas salas de estar de Londres, e o rufo de renda branca nos punhos e na garganta em nada suavizava a aura de perigo. A crua vitalidade que ele exalava atraiu e capturou o olhar de cada mulher no salão. Inclusive o dela.
Ele era o último homem que esperava ou queria ver na festa de lorde Carrick. Felizmente, Ian não estava ali para criar problemas.
O olhar dele varreu o salão e, para a mortificação de Selina, seu coração disparou enquanto esperava algum reconhecimento de sua presença naqueles olhos azul-celeste. Quando o olhar de Ian a alcançou e se deteve, Selina não conseguiu respirar. Seu coração deu uma cambalhota.
Uma expressão de horror adejou o rosto de Ian, depois o olhar seguiu adiante. A pontada da rejeição a atingiu de novo. Ridículo! Ela não dava a mínima para a opinião de Gilvry. Ele podia ter sido o primeiro homem, ou melhor, garoto, a beijá-la, mas tinha sido uma tentativa desajeitada na qual não valia a pena pensar. Especialmente quando suas famílias estavam em pé de guerra.
— Quem é ele? — sussurrou Chrissie.
— Ian Gilvry de Dunross
Série Gilvrys of Dunross
1- Coração Leal
2-3-4- Não Publicado no Brasil
Interligado
Coração Feroz