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Sortilégio

Sortilégio






Escócia, 1807 

Uma herança inesperada leva Katlin Sinclair a Innishffarin. 

Jovem da alta sociedade londrina, ela corajosamente se prepara para viver no castelo em ruínas, assombrado por seres que murmuram sortilégios e tentam envolvê-la numa rede de acontecimentos e imagens de uma época muito distante. Determinada a manter a lucidez e os pés fincados no presente, Katlin enfrenta as forças sobrenaturais que desejam afastá-la do castelo.
Se o último descendente dos antigos proprietários de Innishffarin não fosse o teimoso e adorável Angus Wyndham, a tarefa de Katlin seria menos penosa.
Dia a dia a afeição entre ambos cresce alheia à secular hostilidade entre suas famílias. Porém, eles estão proibidos de se amar, acorrentados a uma disputa que transcende os limites da própria morte! 

 Capítulo Um 

— Oh, não! — Sarah exclamou ao colocar a cabeça para fora da janela da carruagem e olhar a imensa pilha de pedras escuras que se agigantava à sua frente. — Senhorita, tenho certeza de que pegamos a estrada errada.
Curiosa, Katlin juntou-se à criada na janela. A carruagem continuava sua jornada barulhenta e sacolejante ao longo da estrada esburacada. Estavam viajando há um dia e meio, tendo parado à noite para descansar em uma hospedaria, e retomado seu caminho ao amanhecer.
A chuva caíra até poucos minutos, mas agora as nuvens começavam a dissipar-se, dando lugar ao sol que vinha iluminar as montanhas cobertas de urzes, e espalhar seus reflexos dou­rados sobre o mar. 

Entretanto, o que pareceu mais lindo aos olhos de Katlin, foram os raios de sol banhando Innishffarin. Surpreendeu-se com a cena diante de seus olhos e perguntou-se como pudera esquecer a aparência da propriedade.
Tentou convencer-se de que não havia se enganado por completo. Afinal, as urzes estavam lá, e ela vira alguns pôneis à beira da estrada. Decerto, os biscoitos amanteigados deviam estar lá, também, pois não havia sequer um lugar na Escócia onde não se pudesse comê-los.
Mas, aquele amontoado de pedras estava longe do que havia imaginado. Não se tratava de um castelo rico e luxuoso, onde uma família poderia fixar residência. Era uma fortaleza, sim­ples e despojada, legado de um passado de guerras, sem qual­quer concessão ao mundo moderno. Que Deus me ajude, pen­sou apreensiva pelas perspectivas que se desdobravam à sua frente.
— Não se preocupe Sarah — murmurou. — Estou certa de que é bem mais confortável do que parece.
As palavras nem sequer se aproximavam do que realmente pensava. A austeridade do lugar sugeria que detalhes como conforto jamais seriam levados em conta ali.
A carruagem continuou a subir a estrada estreita e sinuosa que levava à fortaleza, construída sobre o cume mais alto das redondezas. Lá de cima, a vista era ainda mais espetacular. Katlin pôde enxergar o vale profundo e, mais além, o ponto onde o mar encontrava o céu.
Sarah gemeu baixinho, pois não se dava muito bem com alturas. Katlin, porém, achou tudo maravilhoso, e sentiu o âni­mo retornar. Pelo menos, até a carruagem parar diante da en­trada principal, e o cocheiro desmontar para ajudá-las a descer. 
Era um criado antigo e leal da Sra. Margaret, cumprindo à risca as ordens que recebera de cuidar para que as duas senhoritas chegassem a Innishffarin sãs e salvas. Uma vez realizada a tarefa, ele não escondia o desejo incontrolável de sair dali o mais depressa possível.
— Segui sua orientação com cuidado senhorita — ele disse, enquanto ajudava Katlin a descer. — O lugar deve ser este, mesmo porque não há nenhum outro por perto. Imagino que não pretenda...
— Você fez tudo direitinho, John — ela assegurou. — En­contraremos alguém que nos ajude com a bagagem e, logo poderemos nos instalar.
Caminhou com determinação até a porta gigantesca, talhada em carvalho e ferro batido, que atingia o dobro da altura de um homem. Bateu uma, duas, três vezes, e tudo o que conseguiu foi ficar com a mão dolorida.
— Deve haver uma sineta por aqui — falou enquanto pro­curava sem sucesso pelo cordão.
— Deixe comigo — John assumiu o controle da situação.
— Não está certo uma senhorita na sua posição ficar parada diante de uma porta sem ser atendida.
Com os dois punhos cerrados, ele bateu com força e, como resultado, a porta se abriu sozinha, embora não houvesse o menor sinal de que alguém estivesse por ali.
— Parece que algo está muito errado — Sarah falou com desconfiança, apalpando disfarçadamente as nádegas. Sentia-se esgotada da viagem longa e desconfortável.
— Tenho certeza de que encontraremos alguém.


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