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Coração Feroz

Coração Feroz






O capitão Michael Hawkhurst se compraz com a fama de terrível.

Sua única razão de viver e se vingar dos Fulton, destruindo-os do mesmo modo que aniquilaram cruelmente sua família. 
Intrépida e ousada, Alice Fulton sabe muito bem que navio não é lugar de mulher. 
Porém, está decidida a salvar o negócio de seu pai. 
Quando o destino coloca Alice nas mãos de Michael como sua prisioneira, ele enfrenta um dilema. Deveria dar continuidade ao projeto de vingança e alimentar seu lado feroz... 
Ou seria melhor ouvir a voz da honra e conquistar o amor de Alice?

Capítulo Um

Arredores de Lisboa — Junho 1814
Costurar um corte no braço musculoso de um homem no deque de um navio não tinha a menor semelhança com costurar um rasgo numa anágua, decidiu Alice Fulton. 
Ela limpou o sangue seco ao redor do ferimento com um pano molhado na água do mar.
A perspectiva de causar dor dava um aspecto totalmente distinto àquilo. 
O balanço do navio e o ângulo da guinada acrescentavam mais desafios. Felizmente, o céu claro e uma brisa leve mantinham o movimento suave, e o toldo acima de suas cabeças os protegia do calor do meio-dia.
Agindo como uma assistente relutante, sua passageira e melhor amiga, lady Selina Albright, olhou para o mar com uma carranca, como se sua vida dependesse disso.
Empoleirado à sua frente sobre um barril, com um corte de sete centímetros na pele bronzeada, seu paciente, Perkin, parecia notavelmente tranquilo. 
Mas, então, ela não falara para o sujeito sério, olhando para as tábuas diante de seus pés, que aquela era a primeira vez em que dava pontos na pele de alguém. Não fazia sentido assustá-lo.
Não que muita coisa assustaria aquele marinheiro forte. Mesmo com a cabeça respeitosamente baixa e o rosto barbado escondido por cabelos castanhos escuros caindo ao redor dos ombros, ele possuía um ar prepotente.
— Quando você fez isso? — perguntou ela.
— Uma noite antes de eu subir a bordo — murmurou ele, sem olhar para cima. — Eu lhe disse, moça, isto não é nada. Eu cuidarei do ferimento.
Alice o pegara enfaixando o ferimento quando tinha passado pela cozinha do navio. Naquele navio mercantil, o cozinheiro também fazia papel de cirurgião, e ele dificilmente poderia costurar a si mesmo.
— O ferimento precisa de sutura.
Ele olhou para cima, dando a ela uma breve impressão de um rosto mais jovem do que ela imaginara antes, e bonito de um jeito rústico e desalinhado. 
As bochechas acima da barba preta tinham sido bronzeadas para o tom de mogno claro. 
Pequenas rugas se irradiavam dos cantos dos olhos que eram de um azul-turquesa raro, misturado com acinzentado. 
Naquele momento, eles continham um brilho distintamente ressentido. Ou talvez fosse um brilho de raiva? Ele abaixou a cabeça antes que ela pudesse ter certeza.
Uma sensação de desconforto perturbou o estômago normalmente calmo de Alice. 
Ele a vinha deixando nervosa desde o momento em que entrara no navio em Lisboa, substituindo o cozinheiro original, que desaparecera no meio da agitação do cais. 
Todos certamente haviam perdido na troca. O que Perkin sabia sobre cozinhar devia ter aprendido de um curtidor. 
Ela olhou para a mão grande, forte e bem formada descansando sobre uma coxa formidavelmente musculosa. Pelo menos, as unhas dele estavam limpas.
Por mais que a comida e a atitude dele fossem ruins, aquele ferimento precisava de pontos.
— Eca. — Selina estremeceu de modo delicado. — Você deveria deixar o marinheiro fazer isso, como o capitão Dareth ordenou — disse ela, com sua voz naturalmente rouca.
Perkin assentiu com a cabeça, em concordância, os olhos escuros se tornando ardentes quando percorreram a figura esbelta de Selina.
Alice teve vontade de socá-lo.
 

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